venerdì 1 settembre 2023

Do livro didático à experiencia real: Relato da experiência de Intercâmbio Intercultural Brasil-Itália – PPGESA/UNEB/DCH III

Olá, me chamo Lindemberg Silva de Almeida, mas conhecido como Berg. Conheci a proposta de intercâmbio intercultural com o professor Nicola Andrian em 2017, parte do seu processo de pós-doutoramento com o programa de pesquisa e intercâmbio Intereurisland. Eu estava no 5º período do curso de graduação em Pedagogia. Nunca passou por minha cabeça fazer um intercambio, sempre me pareceu algo distante da minha realidade, tanto financeira, como a dificuldade de aprender um idioma novo. Por isso, nunca me inscrevi no processo e nunca participei do curso de língua e cultura italianas oferecidos pelos intercambistas quando viam ao Brasil. Terminei a minha graduação em 2019 e em 2022 retornei a universidade do estado da Bahia – UNEB/DCH III no curso de pós-graduação mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiárido – PPGESA.

Com esse retorno, reencontrei o professor Nicola que faz parte do corpo docente do programa, e soube da possibilidade de fazer o intercâmbio que estava sendo ofertado pela primeira vez aos discentes do mestrado. Logo me inteirei com os intercambistas da Itália (da equipe de 2022) e participei do curso. Me apaixonei pela língua italiana, pelas músicas e a vontade de conhecer aquilo que só ouvíamos falar ou que só víamos em livro didático.

No ano de 2023, aconteceram alguns problemas burocráticos que impediram de lançar o edital do intercâmbio, pensei que a viagem não ia acontecer, mas com muita luta, o professor conseguiu a liberação da compra das passagens e fui informado que a viagem ia realmente ia acontecer. Fiz rifa, vaquinha para conseguir me manter por lá durante os quase dois meses de intercâmbio e estudei o idioma italiano todas as manhãs.

E no dia 8 de maio de 2023, partimos de Salvador-BA, passando por Guarulhos-SP, Amisterdã – Holanda e até chegar em Veneza – Itália. E foi já em Amisterdã que a magia da interculturalidade aconteceu, pois no aeroporto, comecei a ouvir inúmeras pessoas falando em diferentes idiomas e isso foi me impactando e caindo a ficha de que estava se concretizando esse projeto em minha vida. E em Veneza-ITA fui recebido pela presidenta da Associação EnARS, Isabela Polloni e peloo professor Nicola Andrian, no dia 10 de maio de 2023

As atividades foram realizadas na região do Vêneto-Itália, entre 3 cidades, sendo que em cada uma acontecia uma atividade objetivada. Foram elas, as cidades de Padova, Rovigo e Badia Polesine. 

Em Pádova aconteciam as aulas de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira todas as terças-feiras, o curso era ministrado por Eu e Edvan, para estudantes intercambistas e público em geral entre 1h a 1h30min de curso, no turno da tarde, essas aulas aconteciam na Associazione Marcellino Vais.


Em Rovigo, estudávamos como discentes na Extensão da Università Degli Studi di Padova, no curso de Ciências da Educação e da Formação, em uma disciplina chamada Pedagogia Interculturale. A disciplina tinha como docente a professora Drª. Lisa Bugno. As aulas aconteciam entre os dias de segunda, terça e quarta, das 11h:45min às 13h:15min.


Em Badia Polesine, é o lugar, e utilizo essa categoria geográfica, pois ela denota um espaço, que possui significados particulares e de relações humanas, e nesse sentido, foi o lugar onde moramos no período do intercâmbio. A residência alojava uma das casas acolhedoras da Cooperativa Porto Alegre com sede em Rovigo, que em específico, só havia recebido imigrantes de Blangladesht.

Estudando Na Itália: A Teoria Da Interculturalidade

O intercâmbio estudantil aconteceu em uma extensão/campus da Università degli Studi di Padova na cidade de Rovigo. As aulas aconteciam de segunda a quarta-feira. Iniciamos as aulas dia 10 de maio de 2023, um dia depois que chegamos na Itália, como diz o ditado, pegamos “o bonde andando”. Era a 6ª aula do semestre, fomos apresentados para a professora Lisa Bugno e para a turma que tinha mais ou menos 120 estudantes. 

As aulas tinham como base principal o livro do professor Dr. Luca Agostinetto L'intercultura in testa: Sguardo e rigore per l'agire educativo quotidiano (Intercultura na cabeça: Olhar e rigor para a ação educativa diária), e o livro da professora Lisa Bugno - Per una scuola più interculturale. Indagine sulle concezioni degli insegnanti tra teoria e pratica (Por uma escola mais intercultural: Levantamento das concepções de professores entre teoria e prática).

Os livros trabalhados nas aulas apesar de trazerem as perspectivas dos professores, tinham um arcabouço teórico importante, sendo trabalhados vários conceitos como educação, interculturalidade, cultura, fenômenos migratórios, multiculturalidade, diversidade cultural, pedagogia intercultural, identidade e Interinclusão. Trazendo a visão de intelectuais importantes como Morin, Deleuza, Geertz, Taylor, Milano, Marazzi, K-lock Hohn, entre outros que contribuem com conceitos trabalhados em sala

As aulas eram um pouco expositivas, mas que a professora tentava uma interação com os estudantes, fazendo perguntas durante as aulas, mas na maioria das vezes só 6, 8 alunos interagiam, acredito que por medo de errar ou falar algo errado em frente a 120 pessoas. A professora sempre fazia quiz utilizando a plataforma “Wooclap.com” em que os estudantes através do “QR CODE” acessavam e ela interagia com as respostas deles.

Além das aulas, tivemos 4 seminários com professores falando de experiências com interculturalidade e de ações sociais. Uma delas foi com o professor Nicola Andrian, explanando sobre o programa Intereurisland e as experiências de intercâmbio Brasil-Itália e sua ampliação com outros países. Nesse seminário, falamos pela primeira vez em italiano na frente de tanta gente. Eu estava bem nervoso e por esse motivo, decidimos elaborar um texto e ler para todos. No meu texto foquei em 3 aspectos que estavam me impactando até aquele momento em relação a Itália e aos imigrantes bengaleses: 

1º A identidade cultural que vimos nas aulas, no sentido de que os italianos têm aspectos próprios e diferentes de nós brasileiros, por exemplo: comer, vestir, cumprimentar, gestos e linguagem... Mas o impacto não foi só com os italianos, mas com os Bengaleses, que também têm aspectos completamente diferentes da Itália e também do Brasil, por exemplo a comida é extremamente apimentada, a maioria deles são islâmicos e as roupas são diferentes e ainda o idioma muito diferente.

2º A língua, esse aspecto me impactou muito, visto que tivemos pouco tempo para aprender italiano (ainda estamos aprendendo). Mas nos deparamos com o desafio de tentar nos comunicar não só em italiano, mas também em bengalês e inglês, que são línguas que eu não falo. Então, para nos comunicarmos, usamos italiano, inglês e gestos das mãos.

E o 3º e último aspecto foi o da alteridade, pois ao ter esse contato com pessoas diferentes, identificamos que as pessoas não são iguais e que apesar de terem basicamente a mesma idade, todos possuem identidades próprias que foram construídas, ressignificadas por suas experiências pessoais e sociais.

E que estava muito feliz por ter essa oportunidade única, que com certeza vai mudar minha vida e todos ali estavam fazendo parte desse processo.

O Português Brasileiro: Uma Aula Descolada

Esse momento para nós foi muito mais fácil por dois aspectos, o primeiro que somos professores educadores e o segundo que as aulas eram somente em português.

Outra vantagem é que a maioria dos participantes eram intercambistas e tinham uma base de estudos do português e os outros tinham interesse na língua, devido um contato ou uma experiência de trabalho com a língua portuguesa. 

Nossas aulas foram um tanto básicas, alfabeto, números, cores, conjugação verbal, dígrafos e ortografia, regiões geográficas e um pouco de história do Brasil. Esse último, tivemos um aprofundamento com o grupo multifocal com discussões políticas, processo de colonização, territorialidades e singularidades culturais do Semiárido e Nordeste, focamos nessa parte do Brasil, já que o intercâmbio das meninas acontece no Território do Sertão do São Francisco.

Ao longo das aulas íamos interagindo em experiências de diálogos, de algumas situações cotidianas ou eventuais em bares e restaurantes.

A Interculturalidade em Prática: Vivência na Cooperativa Porto Alegre

Nossa vivência na casa de acolhença Porto Alegre na Cidade de Badia Polesine foi muito impactante, aqui vivenciei as experiencias mais importante do intercambio. Lá estávamos realmente vivendo a interculturalidade, pois os balgaleses além de não falarem italiano, eles possuem uma cultura islâmica muito forte e diferente da Itália. A forma de comer, de vestir, de falar, entre outras.


A cooperativa Porto Alegre possui outras áreas de atuação, mas a experiencia de acolhença é recente. A casa em Badia estava funcionando a dois meses quando chegamos por lá. Tivemos o prazer de ter um quarto, com sala de estudos e um banheiro exclusivos para nós, além de ter fornecimento da estadia, também tivemos alimentação básica diária.

O nosso objetivo na cooperativa estava no sentido de interagir com os meninos, provocar socialização e experimentar o cotidiano de um imigrante na Itália. Os bangaleses chegam à Itália em uma situação muito difícil, correndo o risco de vida através de botes no mar mediterrâneo, saindo do Líbano e chegando ao Sul da Itália em sua maioria na região da Sicília.

Nossa comunicação se dava de muitas formas, as vezes em italiano com poucos que falavam, as vezes em inglês ou com gestos de mãos. Ou contávamos com o auxílio do app “google translate” já todos falam em bengalês. Em conversas informais sempre perguntava o que levou a sair do seu país e vir viver na Itália. Todos falavam sempre do problema econômico de seu país Bangladesh, de experiencias tristes e violentas, de processo de fome, miséria e morte, perca de pais, mães, esposas, entre outras.

 Inúmeras histórias tristes que me impactaram e me arrancaram lagrimas muitas vezes, inclusive agora ao escrever esse relato e rememorar essa vivencias. E mesmo com o cenário difícil, estavam com um sorriso no rosto e vontade de vencer e todos queriam conseguir emprego e retornar para seu país. Isso me faz pensar no quanto devemos ser gratos pelo que temos e aproveitar as oportunidades ao máximo que a vida nos dá.

Itália: Coisa De Livro Didático

A Itália é encantadora, o que mais me chamou atenção foi a arquitetura das cidades, apesar de serem parecidas, e sempre ter um a praça dos senhores que se assemelham muito, foi incrível ver coisas que só via em livro didático.

Conheci a arquitetura bizantina em Ravena; a casa do poeta Petrarca conhecido por aperfeiçoar o soneto italiano em Arquà Petrarca, com casas de pedras vinícolas nas colinas do Abanno. Andar nas “calletas”, nome dado as ruas e vielas da cidade de Veneza e suas belas gondulas, caminhar na cidade das artes em Florencia com sua beleza da arte romântica, conhecer a cidade dos tijolinhos vermelhos e dos grandiosos castelos renascentistas Ferrara; e a belíssima cidade de Verona que inspirou Shakespeare na escrita de Romeu e Julieta, essa cidade foi a que eu mais amei conhecer.

Tive o prazer de comer uma belíssima lasanha na cidade de Bolonha e passar 2 dias na poderosa cidade do império romano, a cidade do amor de trás para a frente, ROMA, encantado com a grandiosidade das catedrais e do patrimônio mundial da humanidade, o Coliseu romano. Além de conhecer o Vaticano, a imensa Basílica de São Pedro e o Castelo de Sant'Angelo.

Além dessas belezas tivemos o prazer de participar de seminários educativos em Padova e Rovigo, além de contribuir com uma formação de animadores de colônias de férias em Monselice.

Enquanto estávamos vivendo na Itália, a região da Emilia-Romana (centro da Itália) foi assolada por uma catástrofe natural, com as chuvas intensas, o nível do rio subiu e invadiu a cidade e várias casas, então nós decidimos fazer um voluntariado, com a participação de dois bengaleses, na limpeza das casas na região atingida, esse momento foi também impactante pelo processo empático e humanístico que vivemos em solidariedade com aquelas pessoas e de nos comunicar em um bem comum com outro independente da língua.

Foi uma experiência rápida mais que jamais esquecerei, conheci amigos, estreitei laços e registrei na mente o no coração experiências, educativas, formativas, sociais, emotivas.


Entendo que intercâmbio foi um processo importante para o programa PPGESA em relação a pontuação da internacionalização dele, bem como a internacionalização da pesquisa por nós intercambistas.


E
sse momento se torna riquíssimo para nosso processo de formação não só acadêmico-científica como também de formação pessoal, abrindo novos horizontes para pensar, refletir e ver o mundo com diferentes lentes, impactando-nos com toda sua diversidade e complexidade do mundo. Obrigado a todos os envolvidos na realização desse projeto que cresceu no meu coração, vocês são demais e que venham mais possibilidades para novos intercambistas.


Viva a Interculturalidade!!
Berg

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